terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Venha conhecer a nossa cozinha, agora ela é digital!

Por Regina Macedo*

Publicado no site da Aberje

Lembra quando alguns restaurantes nos convidavam para ver os bastidores, como era feita a comida, conhecer os funcionários, num ato de ousadia? Naqueles tempos, a cozinha ficava nos fundos dos restaurantes. Hoje, elas estão à frente, e os chefs são os grandes astros. Pois bem, algo muito semelhante aconteceu com a comunicação das empresas. O mundo é envidraçado, e não só o que fazemos e entregamos é visto, mas o como fazemos, e como fazem aqueles que participam do que fazemos. E ainda, como comunicamos o que fazemos. Sua credibilidade junto aos públicos. É o que dará vida e corpo ao que foi dito. Ou não. E a grande alavanca de toda essa transformação, sem dúvida alguma é o meio digital.

Assim como ainda chamamos comunicação on e off line, continuamos tratando a comunicação interna e externa. Essas linhas divisórias existem apenas para fins didáticos. A comunicação é como água, permeia toda e qualquer fresta e se espalha pelos meios disponíveis. Não há mais controle sobre o que pode ser dito aqui e ali. Quem escolhe o que vai ou não dizer, é quem resolve se expressar. Expressão é um ato de responsabilidade. E esse é um poder, que as pessoas estão começando a sentir. Como tudo o que é novo, traz excessos e descompassos. E trata-se de uma nova estrada que se abre.

As empresas agora, se verão às voltas com situações inusitadas. Uma notícia tem em média minutos, pouquíssimos, para se espalhar na web. Um verdadeiro rastro de pólvora digital. Para o bem e para o mal. E como temos uma tendência para comentar com mais ênfase o negativo, é preciso muito cuidado. A forma e a regra que antes funcionavam, não se aplicam mais. Agora, a visão e a manifestação são 360 graus. Não há cantos ou lugares ocultos. E muito menos como agradar a todos. Cada vez mais, a autenticidade do que se é, e o que se pode fazer, torna-se fundamental. Não é mais um mundo de perfeição, mas de coerência. E de respeito. Pode ser que o estilo não agrade a todos, ou que gere identificação para uns e não para outros. Mas se tiver consistência, constância e propósitos dignos, não for algo efêmero, vou respeitar, mesmo que não goste.

Isso traz uma profunda mudança nas atitudes das empresas, que são claro, formadas por pessoas. Muitos dos executivos que chegaram aos altos escalões de uma organização, tem formação técnica, e ao longo de suas carreiras foram medidos por resultados financeiros por excelência. Claro que, os indicadores de reputação começaram a ficar mais importantes, mas não houve tempo hábil na maioria dos casos, para se prepararem para os indicadores digitais. Essa é uma variável nova e incontrolável. Pode até ser cultivada num ambiente seguro, mas há uma selva onde vivem as mais diferentes espécies ainda não catalogadas. E agora? Podemos até tentar implementar recursos de rastreamentos sofisticados, ficarmos horrorizados e querermos coibir manifestações, ou ingenuamente acharmos que vamos controlar alguma coisa. Por mais que se estabeleçam regras de conduta, que sem dúvida são fundamentais em todo tipo de comunicação e relação, a expressão de idéias é um direito humano. A questão é: para onde vão os ventos dos mares digitais? Onde está a bússola?



Por mais contraditório que isso possa parecer, as coisas podem ser bem simples e analógicas. A velha e boa interação pessoal. O olho no olho, o sentimento verdadeiro, ouvir o outro, gostar de gente. Ingredientes sempre eficientes para a boa comunicação. O meio digital eleva assim, a potência e a cobertura da comunicação. Quem sabe, justamente quando há vínculo e autenticidade nas relações próximas, acenda-se uma faísca na pólvora digital que se espalha pela rede. Um satélite transmissor de alta frequência de informações e sentimentos. Pois no final, parece que o grande desafio continua sendo o mesmo, o humano.

*Diretora de Marketing Corporativo da HP Brasil. Formada em Administração de Empresas com ênfase em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, possui MBA cursado na mesma entidade. Possui experiência no mercado de tecnologia e telecomunicações adquirida em empresas como Gradiente, IBM Brasil e Siemens Mobile, onde ocupou cargo de diretora de comunicação no Brasil.

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